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QUARTA AULA DE REDAÇÃO: NARRATIVO II

QUARTA AULA DE RADAÇÃO: TEXTO NARRATIVO II

AULA 4REDAÇÃOProfessora Sandra Franco'"E, nunca se esqueçam, tomem na lembrança, narrem aos seusfilhos, havidos ou vindouros, o que vocês viram com esses olhosterrivorosos, e não souberam impedir, nem compreender, nemagraciar." ( A Benfazeja)João Guimarães RosaNarraçãoA narração tem como matéria básica o fato, umacontecimento, real ou fictício, que será contado em 1ª ou 3ªpessoa.1. Elementos da narrativa.2. Transformação dos discursos.3. Proposta de narração.4. Orientações para seu texto narrativo.5. Leitura Complementar______________________________________________________1. Já falamos sobre a narrativa em outra aula. Vimos osprincipais elementos que compõem um texto narrativo, lembra-se?Enredo, personagens, tempo, espaço, tempo, espaço e narrador. Jáanalisamos os tipos de narrador e apresentei a vocês os tipos dediscurso...Disse que continuaríamos o assunto...e, hoje, vamos àprática: vamos testar seus conhecimentos e, ao final, farei umaproposta a você.Uma revisão dos tipos de discurso (fala das personagens):1) discurso direto (o próprio personagem fala);2) discurso indireto (o autor conta com suas próprias palavras oque o personagem diria.).23) discurso indireto livre (o narrador e o personagem falam emuníssono. Não há presença de verbos de elocução, de travessões,dois pontos).______________________________________________________2. Transformação dos discursos.Discurso Direto Discurso IndiretoPresente Pretérito ImperfeitoFuturo do Presente Futuro do pretéritoPretérito Perfeito Pretérito mais-queperfeitoImperativo Pretérito Imperf. doSubjuntivo1a.ou 2a pessoa 3a pessoaVocativo Objeto IndiretoForma Interrogativa Forma DeclarativaAdvérbiosaqui, agora, hoje, amanhã lá, naquele momento,naquele dia, no dia seguintePronomes demonstrativose possessivosessa(s), esses(s) aquela (s)isso, isto aquilomeu, minha seu, sua (dele, dela)teu,tua seu, sua (dele, dela)nosso, nossa seu, sua (deles, delas)Fonte: Coleção Objetivo, Livro de Redação.Veja um exemplo do vestibular em que pede essamodificação no discurso:(FATEC) “Ela insistiu:-Me dá esse papel aí.”Na transposição da fala da personagem para o discursoindireto, a alternativa correta é:a) Ela insistiu que desse aquele papel aí.b) Ela insistiu em que me desse aquele papel ali.c) Ela insistiu em que me desse aquele papel aí.d) Ela insistiu por que lhe desse este papel aí.e) Ela insistiu em que lhe desse aquele papel ali.A resposta correta é a da letra “e”; perceba os elementos que foramalterados.3(FUVEST) Maurício saudou, com silenciosa admiração, estaminha avisada malícia.E imediatamente, para o meu Príncipe:-Há três anos que não te vejo, Jacinto...Como tem sidopossível, neste Paris que é uma aldeola, e que tu teatravancas?(Eça de Queirós, A cidade e as serras)a) Transponha para o discurso indireto o excerto acima, fazendo asadaptações necessárias.b) Justifique, agrupando-as em dois blocos, as alteraçõesrealizadas.Resposta (fonte: Curso Objetivo):a) Maurício saudou, com silenciosa admiração, esta minha avisadamalícia. E imediatamente disse para o Jacinto que havia três anosque não o via e perguntou como tinha sido possível naquele Parisque era uma aldeola e que ele atravancava.b) No discurso indireto, que registra o fato da perspectiva donarrador, a enunciação vai para um tempo anterior; assim tem-sehavia e via (pretérito imperfeito), em vez de há e vejo (presente);tinha sido (pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo), emvez de tem sido (pretérito perfeito composto do indicativo); era eatravancava (pretérito imperfeito do indicativo), em vez de é eatravancas (presente do indicativo).No discurso indireto tem-se a 3a pessoa do singular substituindo a1a. e 2a.do discurso direto; assim o pronome o entra no lugar de te;aquele substitui este (neste) e muda-se para a 3a. pessoa (ele) opronome da 2a. pessoa (tu). Foi introduzido o verbo dicendi (dizer),tirando-se os dois pontos e travessão, pontuação do discurso direto,sendo estabelecida uma relação de subordinação (que).O vocativo, Jacinto, típico da fala do discurso direto, acabatornando-se objeto no discurso indireto.________________________________________________3. Proposta de narração.Vamos fazer uma narração?Não existem fórmulas para fazer uma boa redação, masorientações básicas, a partir das quais cada qual irá construir umtexto com o próprio estilo. O exercício constante, aliado à prática daleitura, e a reflexão são indispensáveis para a criação de textos.4Procure, aí em sua casa, treinar a escrita. É verdade que anarração não é normalmente colocada como proposta no Vestibular.O fato é que você desenvolve seu potencial criativo ao contar umahistória, com elementos da narrativa já determinados: como seroriginal? É esse o seu desafio: escreva uma narração e pense quemilhares de pessoas terão os mesmos elementos que você paraescrever o texto...a diferença estará no tratamento do tema e naelaboração da linguagem.No dia 5 de outubro de 1999, terça-feira, o jornal Correio Popular, de Campinas, SP,publicou a seguinte manchete de primeira página, acompanhada de breve texto:100 mil ficam sem água em SumaréUm crime ambiental provocou a suspensão do abastecimento de água de cerca de 100 milmoradores de Sumaré. A medida foi tomada na sexta-feira, quando uma mancha de óleo deaproximadamente 3 quilômetros de extensão surgiu nas águas do rio Atibaia. Anteontem,uma nova mancha apareceu nas proximidades da Estação de Tratamento de Água I, nadivisa entre o bairro Nova Veneza e o município de Paulínia. A situação somente seránormalizada na quinta-feira. A Cetesb investiga o caso e os técnicos acreditam que oproduto (óleo diesel ou gasolina) foi despejado em esgoto doméstico em Paulínia.Leve em conta esta notícia e privilegie a hipótese dos técnicos, apresentada no final dotexto. A partir desses elementos, escreva uma narração em terceira pessoa,caracterizando adequadamente personagens e ambiente. Crie um detetive ou umrepórter investigativo que, quando tenta resolver o “crime ambiental”, descobre que oocorrido é parte de uma conspiração maior.Atenção às exigências da proposta: caracterize aspersonagens, faça a associação dos fatos com o espaço e muitaatenção ao narrador: deve ser em 3a.pessoa (ou observador ouonisciente...) – não fuja da proposta.Nota: Você poderá, depois que fizer sua narrativa, acessar o site daUnicamp e ler alguns dos textos que a Banca Examinadoraconsiderou como as melhores sobre esse tema.______________________________________________________4. Orientações para seu texto narrativo.5Fique atento à estrutura da narração e à apresentação de seutexto: inclusive quanto à estética.¸ Nunca fuja do tema: escreve sobre o que pede a proposta.¸ Na narrativa, procure responder às questões básicas: o quê?, quem?;quando?; onde?; como? por quê?.¸ Lembre-se de ser coerente ao formar sua seqüência lógico-temporaldos fatos; os elementos devem estar relacionados entre si.¸ Atenção ao foco narrativo:você deve seguir a proposta e buscar umacoerência entre aquele que narra e o tipo de linguagem e na forma dedesenvolver os fatos. É como um filme com um problemas de roteiro,que, quando percebidos, tornam inverossímil a história.¸ Observe, também, quando e como usar os diferentes tipos de discurso;por exemplo, no indireto-livre, o narrador deverá ser necessariamenteonisciente¸ Ao construir sua personagem, muito cuidado para situá-la dentro dotempo e do espaço em que se desenvolverão os fatos. A caracterizaçãofísica e psicológica deve permitir ao leitor conhecê-la, formar uma idéiaque a vincule aos fatos. Deve-se observar à classe econômica a quepertence, seus hábitos culturais, sua linguagem, suas roupas,suaidade, enfim, fazê-la “verdadeira” dentro do texto.¸ A linguagem coloquial pode (e deve) ser usada para dar-se voa àspersonagens; às vezes ao próprio discurso do narrador.¸ A linguagem figurada também é bem-vinda num texto narrativo; use acriativa, crie metáforas, metonímias, sinestesias, recursos sonoras;crie!¸ Mesmo sendo permitido o uso da linguagem coloquial, talvez gírias,regionalismos, não vá descuidar da Gramática, quando se fizernecessário.Quanto à estética,não descuide de sua letra, que deve serlegível (manuscrita ou de forma); atenção às margens, procuredeixar alinhado seu texto e evite as rasuras. Um bom expediente éo rascunho: você terá a chance de, relendo o texto, aprimorá-lo,além de cuidar da gramática e de evitar as rasuras. Caso erre umapalavra ao passar seu texto a limpo, simplesmente passe um traçoe escreva o correto à frente, combinado?______________________________________________________5. Leitura ComplementarLeia a crônica narrativa que segue e observe como otratamento de um tema comum, as rusgas com um professor (e dePortuguês) tornou-se um belo texto. Essa leitura é complementar,apresenta como objetivo sugestões para que você se espelhe ebusque a sua forma de escrever...6Edição nº26 - 14/04/00 – Nave da palavraMeu Professor de PortuguêsNão posso descrever com fidelidade o seu rosto. Há certasminúcias e detalhes que o tempo se encarrega de apagar. Nãoposso, por exemplo, descrever seu nariz, sua boca, mas, emalgum canto do meu cérebro ficou gravado seu olhar míope,suas sobrancelhas cerradas entrecortando-se acima dos olhos.Era um olhar tão grave que eu não ousava desafiar. Ele foi meuprofessor por um período de três anos. Durante a 5ª, 6ª e 7ªséries, consecutivamente. Excluindo os domingos, eu oencontrava todos os dias. Era mal-humorado , carrancudo e nãofazia a mínima questão de cumprimentar os transeuntes.Esboçar um sorriso? Só para as meninas do magistério. Quandoelas passavam ele estendia um olhar benevolente, como setivesse alguma carência afetiva, e sempre exclamava a mesmafrase: “ah, se eu tivesse 20 anos...” Nessas horas eu chegava ater pena dele. O silêncio que procedia após a fala, pareciaavolumar-se dentro do peito, sufocando o espaço interior. Comolhos faiscantes ele destilava sobre nós o veneno da frustração:“Você aí que parece a Belém-Brasília, leia sua redação”. Essa eraeu. Às vezes, também me chamava de magricela, quando não,dizia apenas “você aí”. Nunca me lembro de tê-lo ouvidopronunciar o meu nome, nem os de minhas amigas. Será que eletemia criar algum laço mais profundo? Se essa era a meta, eleconseguiu. Eu mesma cheguei a ter ódio dele. Ódio esse, que euguardava em sigilo e disfarçava com um sorriso amarelo pra queele não percebesse. Mas, quando o rancor silencioso vai seavolumando e transforma-se numa bola enorme, arremessadafreneticamente do estômago para a garganta, num rictonervoso, a gente desrespeita a lei e vomita. Vomita tudo de umasó vez. Eu estava cansada de tanto escrever redação, narração,descrição, dissertação... e todos os “ãos” que ele usava paradiscriminar os textos. Pior é que nos mandava ler em voz alta.Líamos, e ele criticava: “Precisa melhorar, está faltando aessência”. Quanto tempo vaguei à procura da tal essência!Pensava ser ela, um fluído aéreo que eu jamais conseguiriacaptar. Naqueles três anos, tudo o que aprendi estavarelacionado com a produção de textos. Na época eu já sabia oque era cacófato, pleonasmo, ambigüidade, metáfora...entretanto, não sabia diferenciar o objeto direto do indireto.Mas, como eu ia dizendo, chegou o dia do vômito. Eu dissevômito? Céus! Se meu professor lesse isso... Era a prova doúltimo bimestre da 7 ª série. Como de costume, ele nos mandouescrever uma redação. “Tema livre”. Dissertei sobre o seguinte:“O professor que eu quero ter”. Fui fundo. Imersão total. Devolvia ele a palavra cortante que havia me escalavrado. Devolvi naforma mais aguda das estruturas lingüística. Penso que doeu. Naentrega dos boletins, ele chamou-me à parte. Tremi. As pernasbambearam. Os joelhos chegaram a bater um no outro. Fuicapaz de imaginar a expressão da minha mãe observando umzero no meu boletim... como me enganei! Ele havia me dadodez! Apertou minha mão e disse: “Vá em frente, você encontroua essência.” Descobri, numa fração de segundo que a essência éo conjunto de sentimentos que dá vida ao texto, é a naturezadas coisas reveladas na sua intimidade. Essa é a melhorimagem, dele, que guardei na retina da minha memória. Mesmopor linhas tortas, levou-me a tomar gosto pela escrita. E isso ésuficiente para eu perdoar meu velho professor de português.7dez! Apertou minha mão e disse: “Vá em frente, você encontroua essência.” Descobri, numa fração de segundo que a essência éo conjunto de sentimentos que dá vida ao texto, é a naturezadas coisas reveladas na sua intimidade. Essa é a melhorimagem, dele, que guardei na retina da minha memória. Mesmopor linhas tortas, levou-me a tomar gosto pela escrita. E isso ésuficiente para eu perdoar meu velho professor de português.Lucilene Machado__________________________________________________________________