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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

VIDA DE PROFESSOR

ENSINAR E APRENDER, PARA NA VIDA CRESCER, E UM  DIA PODER,
VER, NASCER UM MUNDO MAIS JUSTO E MELHOR PARA A FUTURA GERAÇÃO.

 Crise de identidade profissional!

“Os professores vivem tempos difíceis. Ser professor tornou-se, ainda mais acentuadamente nos tempos que correm, uma profissão de risco.”

Consequentemente, esta crise traduz-se na discrepância entre o que o professor gostaria de ser e aquilo que realmente é, reflectindo uma difícil articulação entre o que os professores são a nível individual em contexto de trabalho e o que deveriam ser no colectivo, tendo em consideração as normas e as exigências sociais e de mudança conjuntural e estrutural. Qualquer momento de instabilidade, transformação profissional e incerteza, pode contribuir significativamente para a transformação quer da identidade profissional quer da identidade pessoal. Estamos em presença de poderosos meios para “mudar o que significa ser professor” (Ball, 2002), a sua identidade social (Berstein, 1996), ou, nos termos de Michel Foucault (1996), assumir que estão a emergir novos modos de fabricação da alma dos professores.
O termo crise de identidade aparece, em geral, associado ao conceito de mal-estar docente – teacher burnout – na literatura anglosaxónica, malaise enseignante na literatura francófona -, utilizado por Esteve (1992: 31) para “descrever os efeitos negativos permanentes que afectam a personalidade do professor em resultado das condições psicológicas e sociais em que exerce a docência”. Ou seja, o mal-estar docente é a manifestação de um sintoma mais profundo: a crise de identidade profissional. Afinal, as atitudes dos professores tal como as emoções, são um assunto de interesse colectivo: são causadas por circunstâncias que podem ser identificadas e entendidas, que afectam os professores.
Relativamente à literatura educacional portuguesa não houve ainda um estudo aprofundado da crise de identidade, embora nos deparemos com algumas investigações muito relevantes e desenvolvimento da identidade profissional (Lopes, 2001, 2002). A nível internacional, alguns investigadores têm demonstrado bastante preocupação com o tema em questão (Hargreaves, 2000; Dubar, 2002; e outros).
No entanto, outros autores (Teodoro, 1998, 2006; Afonso, 2006 e outros) abordaram a insatisfação dos professores em relação à profissão e até causas possíveis de mal-estar, podendo daqui inferir a crise inerente à mesma.
O processo de formação da identidade profissional assenta sobre um conjunto de saberes que fundamentam a prática, as condições de exercício dessa mesma prática, o estatuto profissional e o prestígio social da função docente, a pertinência cultural e social no contexto em que se desenvolve. No entanto, quando estas bases são questionadas, a crise de identidade profissional é inevitável, uma vez que a identidade atribuída por outros não coincide com a identidade reivindicada pelo eu. Por conseguinte, esta crise supõe a dissociação entre a nova identidade para si e a antiga que, com as várias mudanças e exigências, não é reconhecida pelos outros. Perante este tipo de dissociação, de ruptura, de desestruturação devido a diversos factores aos quais irei dedicar uma ligeira atenção, adquire uma dimensão preocupante.
Com a democratização do ensino, a escola foi “invadida” por alunos de várias classes sociais e culturais arrastando consigo problemas de disciplina. O aumento da heterogeneidade discente, trouxe para a escola valores e normas sociais e de vida muito diferentes, na maioria das vezes, contrarias às defendidas pela escola. Por conseguinte, a escola sente dificuldade em manter uma relação pacífica e amigável, uma vez que esses alunos além de a rejeitarem, resistem à sua cultura de forma mais ou menos violenta. Como refere Teodoro (2006: 56) “A massificação da educação coincide com uma mudança de forma da escola. Os valores consolidados ao longo de mais de um século, as regras e os objectivos que presidiram à construção da escola tal como a conhecemos no nosso percurso escolar, estão definitivamente em crise”. Para agravar ainda mais a situação, um número significativo de pais parecem demitir-se das funções que lhes competem. Paradoxalmente, “ os professores temem entre outros aspectos, o controlo das populações e da comunidade local sobre o seu trabalho educativo, receando uma perda de autonomia profissional e de poder de decisão na gestão das escolas. Uma identidade profissional construída ao longo de dois séculos como funcionário público dependente do Estado central, associada a uma escola edificada a partir do centro e com poucos ou nenhuns laços com o local, ajudam a compreender essas resistências” (Teodoro, 2006: 71).
A juntar às relações professor/aluno, também as relações entre colegas se convertem, muitas vezes, num mal-estar, contribuindo para agravar ainda mais a crise de identidade. Tratando-se de um grupo profissional bastante numeroso, o individualismo continua ainda bastante arreigado na profissão docente, embora se tenham feito alguns esforços no sentido de um maior espírito de grupo, como é o caso da implementação e desenvolvimento dos Projectos Educativos de Escola.
Entre outros, os factores enunciados contribuem para esta crise de identidade profissional.

Texto enviado por Eugénio Barreira

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